Texto aprovado nesta quinta-feira (13) pelo Congresso dribla uma das exigências da Corte e mantém brechas para ocultar o nome de deputados e senadores responsáveis pelo repasse. A proposta aprovada pelo Congresso nesta quinta-feira (13), com regras de transparência nas emendas parlamentares, dribla uma das principais exigências do ministro Flávio Dino, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF): a divulgação do "padrinho da verba", ou seja, o nome do deputado ou senador que indicou os repasses de dinheiro para obras e projetos em suas regiões.
Essa é a avaliação de entidades de transparência, que consideram o projeto insuficiente. Uma das brechas não resolvidas envolve as emendas de comissão. Na indicação dos líderes, por exemplo, não há qualquer menção ao nome do parlamentar que solicitou a emenda.
"A proposta ignora o ponto central das determinações feitas pelo STF e insiste em institucionalizar a prática característica do 'orçamento secreto' [...]: a ocultação dos autores de proposições e indicações de emendas", diz nota divulgada pelas entidades Transparência Internacional, Transparência Brasil e Associação Contas Abertas.
Por que o Congresso aprovou novas regras?
As emendas parlamentares são recursos destinados aos redutos eleitorais de deputados e senadores para obras e projetos. Esse dinheiro sai do orçamento do governo federal.
Existem três tipos de emendas: individuais, de bancada e de comissão. As duas primeiras são emendas impositivas, ou seja, o governo é obrigado a pagar.
Em agosto, Dino suspendeu os repasses por falta de transparência.
A suspensão gerou um impasse até que o ministro estabeleceu uma série de condições para liberar os pagamentos.
📋 As condições:
Emendas de bancada e comissão devem ter o nome do parlamentar que sugeriu cada proposta.
A transparência inclui ainda rastrear o dinheiro e saber se a verba está sendo bem aplicada.
As emendas não podem ser enviadas em nome do ‘coletivo’. Líderes partidários "não detêm monopólio da autoria".
Para Dino, o projeto aprovado nesta quinta está longe do ideal, mas considera que "passos concretos foram dados pelo Legislativo".
Quais são os tipos de emendas e o que foi aprovado?
💲Emendas de comissão: não são impositivas e tinham problemas de transparência que não serão resolvidos com o projeto aprovado. Os recursos são indicados por grupos temáticos no Congresso, tanto da Câmara quanto do Senado. Essa modalidade foi turbinada após o STF derrubar as emendas de relator.
🚨A primeira brecha:
O texto aprovado permite que parlamentares indiquem individualmente suas emendas às comissões. Mas os líderes também continuam indicando as emendas, criando a primeira brecha.
Como ficou na prática: na ata que os líderes enviarão às comissões com valores e favorecidos pelos recursos, não há menção ao nome do parlamentar que solicitou a emenda.
🚨A segunda brecha:
O documento prevê um campo para indicar qual deputado ou senador pediu a emenda; mas não há regra se, neste espaço, deverá estar inscrito o nome do padrinho verdadeiro ou do líder partidário que encaminhou os pedidos aos colegiados — mecanismo utilizado atualmente.
Entidades de transparência afirmam que a medida contraria a Constituição.
💲Emendas de bancada: são emendas impositivas desde 2019. Os recursos reservados para essas emendas são aplicados conforme indicação de bancadas de cada estado no Congresso.
Pela regra aprovada, cada estado terá direito a até 11 emendas, sendo que 3 delas devem ser destinadas exclusivamente para concluir obras já iniciadas. As indicações terão de ser aprovadas por três quartos dos deputados e dois terços dos senadores de cada bancada estadual.
Atendendo a pedidos do Supremo, o texto estabelece que as emendas de bancada deverão informar "precisamente" o local onde serão utilizadas. Um estado não poderá enviar emendas para outro, salvo em caso de "projetos de amplitude nacional".
🚨A terceira brecha:
É possível ocultar o padrinho nessa categoria também.
As bancadas estaduais de deputados e senadores votam e aprovam quais indicações serão feitas pelo grupo ao Orçamento.
O modelo de ata previsto na proposta estabelece que deve ser informado o parlamentar solicitante da emenda.
Há, porém, uma segunda ata, que será o documento válido para fins de execução orçamentária. Este documento não traz qualquer campo para identificação do padrinho.
💲Emendas individuais e PIX: são impositivas, ou seja, o governo é obrigado a pagar. Os parlamentares têm direito a indicar a localidade onde o dinheiro será usado e seu nome aparece como padrinho da verba.
Segundo a proposta, as emendas individuais poderão chegar a até 2% da receita corrente líquida (soma da arrecadação) do ano anterior.
A resolução prevê, ainda, que as transferências especiais, chamadas "emendas PIX", devem ser destinadas "preferencialmente para a conclusão de obras inacabadas".
As "emendas PIX" já foram alteradas para atender a requisitos do Supremo. E agora precisarão trazer explicitamente o local onde serão usadas.
Dino aprova plano do Congresso para dar transparência a emendas
Outras novidades da proposta
🔎Modelos de ata
A proposta do Congresso inclui modelos de ata para detalhar como foi a análise e aprovação de emendas em comissões e em bancadas estaduais.
🔎Mudanças na análise do Orçamento
A Comissão Mista de Orçamento (CMO) não poderá votar as emendas às leis orçamentárias sem que o Comitê de Admissibilidade de Emendas analise as indicações antes.
A resolução aprovada também dá poder à CMO para criar normas complementares para o processo de análise de emendas parlamentares.
O texto prorroga ainda o mandato da atual composição do colegiado misto até o fim da aprovação do Orçamento de 2025, que está emperrada por causa do imbróglio das emendas.
🔎E as emendas já aprovadas?
Para atender ao STF, a resolução prevê que as comissões da Câmara e do Senado deverão ratificar todas as emendas aprovadas pelos colegiados ao Orçamento de 2024.
As comissões deverão seguir os novos formatos de atas, tentando identificar os padrinhos verdadeiros das indicações.
A medida foi incluída para destravar de vez o pagamento de emendas de comissão que foram bloqueadas por decisões anteriores de Dino.
As bancadas estaduais também deverão ratificar as emendas que já foram aprovadas para o Orçamento deste ano.
Segundo a resolução, os estados precisarão readequar as indicações às novas atas. Se não houver adequação, as emendas não poderão ser executadas.
Em 2024, o montante reservado para as emendas foi de cerca de R$ 52 bilhões.